A pequena florista de vestido verde

Em meados dos anos 90, eu e alguns amigos tocávamos em um restaurante aqui da minha cidade, eu era vocalista da banda,  e modéstia a parte, até mandava muito bem. Éramos amadores, mas fazíamos apresentações em restaurantes, pizzarias, feiras agropecuárias etc.
Havia uma pizzaria que nos apresentamos por  um bom tempo, em torno de 6 anos.
Todas as noites passavam por essa casa noturna um rapaz de uns trinta anos em média, vendendo botões de rosas. Ele sempre vinha acompanhado de dois meninos, que tenho quase que certeza, eram seus filhos. Ficavam ali meio perto da porta, acanhados, até que tomavam coragem e entravam para vender suas flores. Vendiam alguns ramalhetes e seguiam para outro restaurante, e no dia seguinte tudo se repetia novamente. Nunca coincidiu de passarem por ali na hora do nosso intervalo, sempre que passavam estávamos em cima do palco e não dava para conversar.
O palco ficava logo na entrada e tinha um vidro grande na frente, através do qual podia-se ver a calçada, onde havia um pequeno jardim.
Nunca me esqueci daquele dia em que olhei através da janela e vi que os floristas estavam chegando, mas naquele dia havia alguém diferente no meio da molecada. Firmei o olhar, pois a cena que vi chamou a atenção. Em pé perto do vidro,  na beira do pequeno jardim, meio acanhada, com uma  cesta de flores nas mãos estava ela, trajava um vestidinho verde com um laço na cabeça e um sapatinho preto nos pés.
Não tinha como não olhar ela era muito linda, cabelos cacheados, olhar assustado. O pai e os irmãos já tinham entrado e nem se deram conta que a pequena havia ficado para trás. Nossos olhares se cruzaram rapidamente, mas naquele momento  pude ver um pedido de socorro em seus olhos.
Com um sorriso e um sinal eu a encorajei a entrar, e ela como se já me conhecesse há muito tempo, retribuiu o sorriso e entrou. Passava de mesa em mesa vendendo suas flores e vez em quando seu olhar buscava o meu, como se estivesse buscando minha aprovação, e eu prontamente lhe retribuia o sorriso e fazia um sinal de aprovação com a cabeça. 
Depois de percorrer as mesas, notei que a pequena florista caminhava em direção ao palco com um lindo botão de rosas nas mãos. Estendeu a mão e me ofereceu sorrindo uma rosa,.  Me abaixei, e beijei o rosto daquela pequena flôr. Não nos falamos, apenas trocamos olhares, mas nos entendemos,  nossos corações se falaram, e então ela se foi, sorrindo, enfeitando a vida e perfumando o mundo com suas flores.



Autora: Nilse Aparecida





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